Estamos na semana mundial por um parto respeitado, que este ano (post escrito em 2017) traz como lema: “40 semanas? Respeitemos os tempos de nascimento”.
E assim é. Como pretendemos programar algo que já está programado pela natureza? Não tem sentido algum. Metemos no mesmo saco a todas as mães, a todas as gestações, a todos os bebês. Cada gestação é um mundo e cada uma delas tem o seu tempo. Cada bebê necessita seu tempo no útero. Não somos robôs, somos seres únicos, diferentes e por tanto, não podemos pretender que todos os bebês nasçam na semana 40.
Quando te dizem a data provável do nascimento, parece que a palavra PROVAVEL passa inadvertida. Só entendemos data do nascimento. E quando a gravidez dura algo mais, já todos estão nervosos: mães, familiares e profissionais.
Vamos dar tempo aos bebês para acabar de amadurecer.
Cada bebê nasce no momento que está preparado. Cada semana, cada dia que o bebê se desenvolve no útero é crucial. Devemos manter o feto no útero para protege-los dos perigos que possam surgir no ambiente extrauterino.
Assim que induzir farmacologicamente um parto ou praticar uma cesariana antes de que a mulher entre em trabalho de parto espontaneamente é algo que só se deveria fazer se existem razões médicas mais importantes que a possibilidade de permitir que o bebê se desenvolva mais tempo dentro do útero.
E como estamos na semana mundial pelo parto respeitado, vou contar para vocês um relato desse tipo de parto: o meu parto respeitado (o parto Anxo).
Logicamente, como é normal nesses casos, tanta oxitocina natural te nubla o cérebro, faz você se desconectar do mundo e se conectar com você mesma, com a sua essência. Por isso, tenho uma lembrança um pouco caótica, sobretudo de tempos. Não fui muito consciente do que aconteceu primeiro e o que foi depois, mas meu marido foi anotando num caderninho tudo, cada coisa que acontecia com a sua hora exata e depois de ler as anotações, fui ordenando as minhas lembranças.
Como já comentei em algum post, meu sonho era parir. Parir naturalmente. Poder sentir meu corpo reagindo aos hormônios, seguindo o curso do que estava programado pela natureza. É que formava até parte dos meus sonhos pelas noites.
Quando fiquei grávida de Sara (2013) já pensei no parto desde o primeiro dia. Imaginava esse momento com um sorriso nos lábios. Tentei de tudo, mas não pôde ser. Tinha pouco líquido e um mioma e nada disso favorecia que Sara girasse e ficasse de cabeça para baixo. No final, uma cesárea programada. Acabei estourando a bolsa 2 dias antes e, ainda que fosse uma cesárea igual, me alegrei de que minha filha sentisse que esse dia ia nascer. Assim, estava um pouquinho mais preparada.
2 anos e 3 meses depois… Estava grávida de novo. Desta vez o bebê estava de cabecinha e tudo indicava que o parto ia ser normal. Precisamente na madrugada do dia 30/12/2015 a bolsa estourou. Líquido claro, prova do estreptococo negativa, nada de contrações, movimentos e frequência cardíaca normal. Estávamos tranquilos. Tínhamos sono, assim que fomos dormir! No meio da noite, Sara (2 anos e 3 meses) nos chamou desde o seu quarto. Fui consolar ela com um pouco de peito.
Levantamos tarde, sobre as 11 da manha e fomos preparar o café. Recebo a ligação da minha matrona, colega e amiga, Iria. Já tínhamos pactado que seria ela que atenderia o meu parto.
Depois, meu marido foi cortar o cabelo no salão e eu fiquei com Sara em casa preparando um bolo para levar para as minhas colegas no hospital. Ainda nada de contrações. A tranquilidade era total!!
Almoçamos, e mais tarde, as 17h chegou meu irmão para levar Sara para casa de meus pais. Última mamada e um abraço forte. Fiquei com muita peninha dela. Acabava o seu reinado e dava a impressão de que ela suspeitava algo.
19:00h: Banhinho quente e preparados para ir ao hospital.
Ao chegar, Iria já estava nos esperando como sempre, com um grande sorriso que a caracteriza. Me tomam as constantes vitais,, una ultra, me fazem o controle com monitor fetal, analise de sangue e… Tudo ok! Para casa a esperar a chegada das contrações na tranquilidade do nosso lar. Mas antes, passada pelo súper mercado para comprar umas coisas, uns truquinhos para poder estimular contrações.
Já em casa, as 22:30h recebo a visita de uma colega matrona, Isa. Ela me trouxe um frasco com uma mistura de essência de flores de Bach (homeopatia) para ajudar também a induzir o trabalho de parto e manter o controle emocional. Mas o que foi mais efetivo foi a conversa que teve Isa comigo. Digamos que ela cavou no meu EU interior para que eu descobrisse e entendesse porque as contrações não apareciam. Descobri, entendi e fui plenamente consciente. Aceitei. E chorei. Chorei muito. Não de tristeza. Mas bem de alívio por colocar para fora algo que guardava dentro. Meu marido e eu nos abraçamos um longo tempo. Foi curador.
Ao trazer à consciência esse dado importantíssimo, foi como fazer um “clic”, como apertar um botão de START. Começaram as tão desejadas contrações!!
Mudamos de dia, estamos no ultimo dia do ano 2015. O dia que saia de contas e que meu bebê, casualmente, escolheu para nascer.
Mais de 18h de estourada a bolsa, é hora de começar a passar o antibiótico para evitar infecção. Como sou enfermeira, eu mesma me encarreguei disso em casa.
Entre sofá e bola de Pilates, passei a madrugada. As contrações, cada vez mais fortes, mas ainda não muito doloridas. A altas horas caí rendida na cama. Descansei um pouquinho, até que a coisa já foi se animando bastante e senti necessidade de me levantar. Tomei um banho quentinho e nos preparamos para ir ao hospital já que o acordo era que às 8 da manhã teria que ingressar para provocar o parto por tantas horas de estourada a bolsa.
Chegamos ao hospital com contrações cada 3 minutos. Já não fazia falta provocar nada. A natureza seguiu o seu curso.
Muito apoio, palavras de ânimo, muito carinho e atenção por parte do meu marido e das companheiras de profissão.
Durante o trabalho de parto o apoio é fundamental. Não aquele que te compadece, mas aquele que te anima, que te diz o quão forte você é.
As contrações cada vez mais dolorosas, mas não muito frequentes, cada 10 minutos. Entre uma e outra eu era capaz de dormir. E de sonhar. Entrava num sono tão profundo tão rapidamente que era incrível. E as compressinhas quentes para dar calor local na zona do sacro foi mão na roda para ir levando a dor.
Como havia pouca dinâmica uterina, utilizamos vários truquinhos naturais para aumentar a frequência das contrações. E conseguimos. Cada vez mais.
Necessitei algo mais que as compressas quentes. Me sentei na bola de Pilates debaixo do chuveiro quentinho. E foi glória bendita!!! Assim passei o resto da dilatação.
As 12:30h começo a fraquejar e pensar na possibilidade da anestesia.
O bebê estava em posição posterior, ou seja, colocado na barriga de tal forma que as costas dele estavam em contato com as minhas. Essa posição do feto provoca fortes e dolorosas contrações que se irradiam para a região detrás das cadeiras.
Minha matrona e meu marido me lembraram que o parto natural era o sonho que eu perseguia há tempo e ao comprovar que já estava de 7 cm, tomei forças e segui adiante.
Aplicamos outros truquinhos para mudar a posição do bebê e senti perfeitamente quando isso aconteceu. A dor das contrações se tornaram mais amenas.
Às 15:00 comprovamos com um toque, que estava completamente dilatada. Às 16:30h começo a sentir vontade de fazer força. Passei boa parte dos puxos debaixo do chuveiro, até que senti a necessidade de me deitar e fui para a cama.
Senti, com cada puxo, a cabeça do meu bebê descendo, se abrindo caminho. Cada vez se via mais e mais. Meu marido se deslumbrava com a imagem da cabeça saindo pouco a pouco. Senti perfeitamente o famoso aro de fogo. Sabia que já faltava muito pouco. Foi saindo devagarzinho, devagarzinho. Eu era capaz de controlar os puxos e posso até afirmar que para mim, o expulsivo foi prazeroso.
E as 17:25h, sob um ambiente tranquilo, silencio e luz tênue, nasceu nosso segundo bebê. Nesse mesmo momento foi colocado sobre meu peito (e permanecemos pele a pele durante as seguintes 3 horas) e foi quando descobrimos que era um menino, era Anxo!
Quase imediatamente ele se dedicou a mamar. Um momento único. Era a primeira das tantíssimas vezes que se prenderia à sua tão adorada “Tete”, como ele mesmo chama. De feito, agora mesmo, escrevo estas linhas, depois de 1 ano e 4 meses, com ele mamando e tentando tocar as teclas do computador.
O cordão umbilical só foi cortado depois de deixar de latejar completamente, para favorecer a transferência de sangue da placenta ao bebê e assim aumentar as reservas de ferro . E foi meu marido quem realizou o corte.
As 17:55h finaliza meu parto com a expulsão da placenta, esse órgão transitório que albergou e alimentou o meu bebê durante exatamente 280 dias.
Dois pontinhos de sutura internos e fim. Fim de uma etapa, começo de outra. Já somos 4!!
Consegui, por fim, o meu tão ansiado parto natural e respeitado e me senti a mulher mais poderosa do mundo!! Algo transformador!
A diferença com a cesárea programada é abismal! Nada a ver. A cesárea é algo muito frio. E só percebi o quão abismalmente diferente era depois de passar pelo parto natural respeitado.
O que mais me chamou atenção foi o tema da vinculação. Achei que na cesárea a vinculação tinha sido imediata. Mas não. Definitivamente não. A sensação de amor, paixão, loucura pelo bebê é assustador de tão grande e imediato que é.
O cocktel de hormônios se encarrega de que a gente se apaixone loucamente por aquele ser desconhecido. Juro a vocês que, com a cesárea, pensei que tinha sentido esta vinculação imediatamente, mas só depois de passar pelo parto natural que percebi que não foi igual, nem parecido, sequer.
O parto natural respeitado é uma vivencia mágica!! E que espero repetir. 😉
(Post dedicado especialmente ao meu marido Alfonso, que fez com que eu me sentisse una superwoman!)
Agora, quero conhecer o seu relato. Como foi o seu parto? Foi como você sonhava? Teve, como eu, dois ou mais tipos de parto? Qual a diferença mais destacável?
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Tenha certeza de que é uma experiência inesquecível, que todo ser humano teria que viver, mesmo que apenas uma vez na vida.