Um ano mais (e lá se vão 25) se celebra a semana mundial do aleitamento materno e desta vez com o lema “Proteger a amamentação: construindo alianças sem conflitos de interesses”.
Este ano se pretende desencadear ações conjuntas em prol da amamentação. E de que forma?
Pois, implicando aos governos, mobilizando e desenvolvendo ações para a promoção, proteção e apoio da amamentação e criando e fortalecendo as politicas e programas de aleitamento materno.
Para começar, há muita incoerência e muita utopia com as recomendações sobre aleitamento materno.
Não é lógico que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomende o aleitamento materno de forma exclusiva durante os primeiros 6 meses do bebê quando a licença por maternidade na maioria dos países do mundo seja inferior a esse meio ano.
No Brasil mesmo, o direito à licença-maternidade são de 120 dias nas instituições privadas e 180 dias nas públicas. 120 dias são apenas 4 meses!
Meu Deus, isso não é nada! Um bebezinho de 4 meses necessita a mãe 24 horas ao dia. Já não só mesmo as que amamentam de forma natural, também os bebês de mamadeira precisam ter a sua mãe o dia todo com eles nessa idade.
É uma crueldade separar mãe e bebê aos 4 meses. A mãe ainda está superpuérpera e o bebê é praticamente um recém-nascido.
Mas trabalho hoje em dia é um bem necessário, escasso e apreciado. Quem pode se dar o luxo de não trabalhar? Como se arriscar a perder o emprego? E menos agora que a família cresceu! É uma situação complicada.
Aqui na Espanha, hoje em dia temos direito a 119 dias e até há uns poucos meses essa licença durava 112 dias. Vergonhoso! Eu me vi nessa tessitura em 2 ocasiões e tive que tomar uma dura e drástica decisão: ficar em casa para cuidar dos filhos.
Com Sara, que foi a primeira, sem ganhar salario algum desde 112 dias e até os 8 meses dela, estive em casa. Com Anxo, até justo o primeiro ano dele.
Não me arrependo. Curti muito a fase de bebê de meus filhos e isso foi bom tanto para eles como para mim. A fase de bebê é importantíssima para o desenvolvimento futuro do individuo. E passa voando! E o pior de tudo: não volta jamais!
É claro que é uma decisão difícil. É claro que tem que fazer esforços financeiros para poder aguentar a situação. Mas se organizando, recortando caprichos e demais, muitas vezes é possível sim.
Pensando bem, o barato sai caro.
Se o que pretendem é não prolongar a remuneração da licença por maternidade o que se acaba conseguindo é que a maioria das mães não consigam manter a amamentação natural por muito tempo. E quais as consequências disso?
Bebês mais propensos a padecer doenças varias inclusive também durante toda a infância (e vida adulta). Isso implica mais gasto em saúde pública e mais ausências desses pais ao trabalho para poder acompanhar os filhos ao médico.
Sem contar que a produção de milhões de litros de leite de fórmula gera um enorme gasto econômico e meio ambiental:
No final, o gasto é infinitamente maior que simplesmente prolongar uns meses mais a remuneração econômica da recente mãe e assim facilitar que elas possam manter o aleitamento materno.
A fim de contas, muitas vezes a decisão de não amamentar é por conta da volta ao trabalho. Aquele medo de não poder manter o aleitamento e que a criança depois tenha dificuldade em se adaptar ao leite de fórmula influi e muito na escolha da alimentação do bebê.
Então, quanto tempo de licença-maternidade seria necessário realmente? 6 meses? Acredito que não.
Se paramos para analisar são 6 meses de aleitamento materno exclusivamente mas aos 6 meses e 1 dia o bebê ainda não está preparado para comer uma quantidade adequada de alimentos diferentes do leite materno. A alimentação complementaria se introduz pouco a pouco, sendo o leite materno o principal alimento durante o primeiro ano de vida da criança. Aos 12 meses a quantidade de alimentos “sólidos” deverá ser superior ao leite.
Então, é lógico pensar que o tempo mínimo ideal para a reincorporação ao mundo laboral das mães seja ao completar o primeiro ano de vida do filho. Dessa forma, ambos estão preparados para enfrentar com mais tranquilidade a separação.
Outra forma muito importante de colaborar na promoção, proteção e apoio do aleitamento materno é a VISIBILIDADE! Mas como assim? Fácil, conseguir com que o aleitamento natural seja visto como algo normal, lógico. Que não chame atenção.
Por exemplo:
Enfim, há muito por fazer. Há muito por mudar.
E eu, desde este blog pretendo colaborar com o meu grãozinho de areia para a promoção, proteção e apoio a esse ato tão maravilhoso como necessário que é o aleitamento materno.
Foto desde Flickr: Alba Lactancia Materna